Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam os sintomas da doença como a maior probabilidade manifestações clínicas, em comparação com a dengue e o zika, e o risco de permanência de dor intensa e limitante nas articulações por até um ano
Por: Giulia Vidale
Esquecida até há pouco tempo em
meio às preocupações com dengue e zika, a chikungunya agora se mostra como uma
afeção tão ou mais alarmante no país. A explosão no número de casos notificados
da infecção nos primeiros meses deste ano tem preocupado -- e muito -- os
especialistas. De acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da
Saúde, até o dia 5 de março, haviam sido notificados 13.676 casos prováveis de
febre chikungunya no país, destes, 550 já confirmados.
Em 2015,
no mesmo período, foram registrados 4.890 casos prováveis. Ou seja, houve um
aumento de quase 180% nos casos da doença. Apenas os estados do Rio de Janeiro
e de Mato Grosso não notificaram casos suspeitos em 2016. O nordeste concentra
a maior parte de doenças (11.170), seguido pela região Norte (1.108) e Sudeste
(769). No Sudeste, São Paulo é o campeão no número de notificações: 653 contra
apenas 36 no mesmo período do ano passado. Destes, 103 já foram confirmados,
sendo seis autóctones (cinco na capital e um em Rio Claro).
Em
Pernambuco, Estado campeão no número de casos de microcefalia e com grande
incidência de zika, até o último sábado (9), foram notificados 16.488 casos de
chikungunya, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde. Quase o
dobro dos casos suspeitos de zika (8.337) registrados até o momento, mas ainda
bem menor do que os de dengue (50.030).
Em relação
ao número de óbitos pela doença, segundo o ministério, apenas duas mortes por
febre chikungunya foram confirmadas no Brasil (uma na Bahia e uma em
Pernambuco) e outros quatro estão em investigação. Entretanto, de acordo com a
Secretaria de Saúde de Pernambuco, somente no Estado já foram registradas nove
mortes pelo vírus. Embora raramente fatal, pessoas com imaturidade ou envelhecimento
imunológico, como crianças e idosos, e doentes crônicos como cardíacos ou
diabéticos, correm maior risco.
Diz o
infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo:
"Em geral, nos três primeiros anos após o vírus chegar a um novo local, há
um aumento gradual no número de casos, pois se trata de uma fase de adaptação
ao mosquito transmissor. Já o ápice do número de infecções acontece entre o
quarto e quinto ano. Neste período, em que o vírus já está adaptado, há um
aumento da eficácia da transmissão que, em conjunto com uma grande quantidade
de pessoas vulneráveis (que ainda não foram infectadas), leva ao aumento
exacerbado do número de casos."
Isso
significa que o Nordeste, região em que a a doença chegou primeiro, está passando
agora pelo ápice das infecções por chikungunya. No Sudeste, isso deverá
acontecer em um ou dois anos.
Características da chikungunya - Embora tenha sintomas em comum com a dengue e
a zika, a principal característica da chikungunya é a forte dor nas
articulações, que, em até 20% dos casos, pode durar por um ano ou mais. Outro
dado de alerta é que a probabilidade de pessoas infectadas pelo vírus
desenvolverem sintomas é bem maior do que nos casos de dengue e zika: entre 80%
e 90% dos infectados por chikungunya apresentarão sinais da doença. Para a
dengue a taxa fica entre 50% e 60% dos infectados. Para a zika esse número cai
para 20% a 30%.
Os
principais sintomas, que aparecem de 2 a 12 dias depois da picada do mosquito,
são: febre alta, mal-estar, dor de cabeça, manchas vermelhas na pele, cansaço
e, em especial, dor nas articulações. Em relação à duração destas
manifestações, elas tendem a desaparecer após a fase aguda da infecção (5 a 10
dias), exceto pela dor nas articulações que permanece por até um mês em 20% a
30% dos pacientes e por um ano - ou mais - em 10% a 20%. Nestes casos, o
tratamento exige a administração de anti-inflamatórios potentes ou até mesmo
cortisona, para melhorar a dor e a inflamação.
"A
poliartrite, comprometimento das articulações semelhante ao reumatismo é
justamente o que caracteriza a febre chikungunya. A dor, que é intensa,
prolongada e limitante nas juntas, já ganhou o nome de "artrite chikungunya",
pois nestes pacientes é necessário procurar um reumatologista e fazer um
tratamento semelhante ao da doença reumatoide", diz Juvencio José Duailibe
Furtado, coordenador científico do departamento de infectologia da Associação
Paulista de Medicina.
A maior
probabilidade de manifestação clínica e de duração prolongada dos sintomas da
chikungunya pode estar relacionada com uma descoberta recente dos
pesquisadores: a concentração desse vírus em pequenas quantidades de sangue é
muito maior do que a concentração do vírus da zika ou da dengue. Segundo
Timerman, isso significa uma maior adaptabilidade do vírus em se manifestar no
corpo humano e pode explicar a maior agressividade e duração da resposta
imunológica do corpo à infecção.
Em relação
ao tratamento, na fase aguda é o mesmo da dengue: muita hidratação, repouso e
analgésico. Apesar da dor intensa nas articulações, neste período é
contraindicado o uso de anti-inflamatório. Após este estágio, caso a dor
persista, é necessário procurar um especialista que irá indicar o tratamento
mais adequado.
O grande
desafio contra a doença, além do combate ao vetor, é o diagnóstico específico.
"Como as três doenças têm sintomas parecidos, a avaliação clínica não é
suficiente para um diagnóstico preciso. Para isso, é necessário realizar também
o teste sorológico, que frequentemente está em falta na rede pública ou não é
coberto por planos de saúde. Também é essencial capacitar melhor os
profissionais e ter infectologistas de plantão, que estão preparados para
atender e diagnosticar estas doenças.", afirma Timerman.
Vírus chikungunya - O vírus causador da febre chikungunya é o
CHIKV. A doença foi identificada pela primeira vez em 1952 na Tanzânia, na
África. Desde então ela começou a se espalhar pela África, Ásia, Europa e
América. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o nome chikungunya
é uma palavra do idioma africano makondée que significa "ficar
contorcido", descrevendo a aparência encurvada dos pacientes que se
contorcem por causa da intensidade das dores nas articulações. Atualmente, o
vírus está presente em 45 países.
Entenda as diferenças entre dengue, zika e chikungunyaDengue
Doença: De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue infecta 100 milhões de pessoas anualmente, em ciclos epidêmicos. No Brasil, a transmissão vem ocorrendo de forma continuada desde 1986 e atualmente circulam no país os quatro sorotipos do vírus, que vão de DEN-1 a DEN-4, por isso é possível "pegar" a doença quatro vezes. De acordo com o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, entre 50% e 60% dos infectados desenvolvem os sintomas da doença, que aparecem entre 3 e 13 dias após a picada do mosquito.Transmissor: mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus Prevenção: Vacina e combate ao mosquito transmissor Sintomas: Febre: superior a 38ºC por 4 a 7 dias Manchas vermelhas na pele (exantema): a partir do 4º dia em 30% a 50% dos casos Dor nos músculos: muito frequente Dor nas articulações: pouco frequente e leve Inchaço nas articulações: raro Conjuntivite: raro Dor de cabeça (cefaleia): muito frequente e intensa Coceira: leve Hipertrofia dos gânglios: leve Tendência a sangramento: moderada Acometimento neurológico: raro
Zika
Doença: O zika vírus foi identificado pela primeira
vez em 1947, em um macaco na Floresta de Zika, em Uganda, continente africano.
Posteriormente, em 1952, foi identificado em seres humanos em Uganda e na
República Unida da Tanzânia. Desde então têm-se registado surtos da doença
causada pelo vírus em regiões da África, na Ásia, Pacífico e nas Américas. De
acordo com um estudo, o vírus teria chegado no Brasil em 2013, mas sua
circulação no país só foi confirmada pelo Ministério da Saúde em maio de 2015.
Considerada uma infecção mais branda em relação a dengue e a chikungunya, a
“febre zika” se manifesta em apenas 20% a 30% dos pacientes infectados, de 3 a
13 dias após a picada do mosquito. Entretanto, a doença começou a ganhar
destaque após a infecção ser associada ao desenvolvimento de microcefalia em
bebês, a síndrome de Guillain-Barré e a outros problemas neurológicos. Transmissor: mosquitos
Aedes aegypti e Aedes albopictus Sintomas: Febre: ausente
ou até 38º por 1 a 2 dias Manchas vermelhas na pele (exantema): a
partir do 1º ou 2º dia em mais de 90% dos casos Dor nos músculos: frequente Dor
nas articulações:frequente e de leve a moderada Inchaço nas
articulações: frequente e leve Conjuntivite: ocorre
em 50% a 90% dos casos Dor de cabeça (cefaleia): frequente e
moderada Coceira: de moderada a intensa Hipertrofia
dos gânglios:intensa Tendência a sangramento: ausente Acometimento
neurológico: mais frequente do que em dengue e chikungunya
Chikungunya
Doença: O vírus causador da febre chikungunya doença é o
CHIKV, da família Togaviridae. A doença foi identificada pela primeira vez em
1952 na Tanzânia, na África. Desde então ela começou a se espalhar pela África,
Ásia, Europa e América. No Brasil, os primeiros casos de transmissão interna da
doença foram notificados no final de 2014. Os sintomas se manifestam em 80% a
90% das pessoas infectadas, entre 4 e 8 dias a partir da picada do mosquito. A
principal característica da doença é a forte dor nas articulações que pode
durar de dias até anos. Transmissor: mosquitos Aedes aegypti e
Aedes albopictus Sintomas: Febre: superior a 38º
por 2 a 3 dias Manchas vermelhas na pele (exantema):entre o 2º e 5º
dia em 50% dos casos Dor nos músculos: pouco frequente Dor
nas articulações: muito frequente e de moderada a intensa Inchaço
nas articulações: frequente e de moderado a intenso Conjuntivite: ocorre
em 30% dos casos Dor de cabeça (cefaleia): frequente e
moderada Coceira: leve Hipertrofia dos gânglios: moderada Tendência
a sangramento: leve Acometimento neurológico: raro
(ocorre principalmente em recém-nascidos)
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